O re-encantamento do corpo
É como se de repente tivesse
despertado dum profundo sono
Passado toda uma existência
numa cegueira e surdez arquetípicas...
Como pude, por tanto tempo, viver desconectado?
portando um corpo que não me representasse;
fazendo dele a expectativa social,
fazendo com ele uma performance?
usando como máscara daquilo tão sagrado que sou?
encenando e pedindo por ele o apreço que deveria ter
dedicado e imposto à minha pessoa?
Quantas vezes meus encontros amorosos
se fizeram só corporalmente.
Quantas vezes um corpo vazio, um coração solitário e
uma alma ausente...
Preocupada que estava em parecer o melhor
tenso, fechado, egocentrado me proibindo à entrega e a
recepção.
Mas, esta foi a minha história,
Esta foi a geografia com a qual me construí
Desde muito pequeno, este corpo,
que não ensinaram a atentar, ouvir e dialogar
foi se construindo pelas minhas tentativas
bem ou mal sucedidas
Traumas, medos e apegos, que não me pertenciam, me foram
entregues:
_Cuidado! Você vai cair!
_ Cuidado! Como você é desajeitado!
_Eta! Você nunca acerta...
E meu corpo, com seu conhecimento milenar,
pois, é barro do barro que vim
Moldou-se, tencionou-se, contraiu-se e
aprisionou-me...
Impedindo-me por vezes de tentar
Impedindo-me por vezes de lutar
Impedindo-me por vezes de acreditar
Impedindo-me à entregar e ao amor....
Desconectado da essência que lhe anima
desconectado da mente que lhe interage
congelado, por repetidas emoções, em atitudes
Passou a ser um corpo pelo corpo
Profanado
Malhado em academias
Lipoaspirado, lipoesculpido
Mutilado de sua dimensão anímica
Mas ele se rebela e me desperta dum sono
profundo
Caminho pela rua e vejo lindos e diversos
corpos-almas,
Narrando num poema encarnado suas histórias
de vida.
Como num jardim, desfruto a diversidade da
manifestação:
Altos, baixos, delicados, robustos, frágeis,
fortes
Trazem-me o que é essencial
Intercambiam aprendizados
Comunicam-me como se inserem e enraízam no
planeta
Num amálgama, contam-me como se constroem e protegem a interioridade de cada ser
Revelam-me, como amorosa e fraternalmente se
intercambiam sentimentos.
Doravante, não mais me permito:
Um amor que não seja de corpo e alma
Uma atividade física desconectada da
completude do que sou.
Corpo e alma
Nada mais de dualismo
Complementaridade, contemporaneidade
Faces da mesma moeda que sou
Yin - Yang
Ação –comunhão
Imanência –Transcendência
Amor
Vida
Sonia Stefanato Alvarez –médica
infância, adolescência e medicina holística
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